Conto aqui sobre o processo criativo que resultou, entre outras coisas, na publicação do livro João Maria, o Criador de Joaninhas com texto e ilustrações de minha autoria.
Sou um sonhador, admito. Quem me conhece um pouco sabe da minha inclinação para fantasiar a realidade. E como tudo na vida tem dois lados, vou começar esse blog tratando do que considero o lado mais luminoso dessa minha tendência fantasiosa (vamos chamar assim): a imaginação criativa. Acredito que o imaginário é a fonte da realidade que construimos. É como dizem: os pensamentos viram palavras, as palavras viram ações que transformam as pessoas e as pessoas transformam o mundo.
É da minha natureza tentar imaginar o que ainda não existe, seja uma história diferente, um desenho original, uma música improvisada, um boneco animado, até mesmo uma sociedade mais fraterna e justa… Sou mesmo um sonhador! O que me move é o imaginário. Às vezes parece uma benção, às vezes parece o contrário…
Vou contar pra você uma dessas experiências de imaginar, que acabou se materializando de várias formas.
No início de 2002 eu morava em Cotia, cidade próxima a São Paulo - região montanhosa, de estrada de terra e a uma distância de uns 12km da padaria e da farmácia mais próximas... Nas minhas idas e vindas, muitas vezes à noite e com chuva, pensava numa alternativa de transporte. Fui motociclista por muitos anos e sei bem os prós e contras desse meio de transporte e queria uma outra opção. Imaginava um triciclo com partes de bicicleta (com peças genéricas e baratas) para poder pedalar, mas que tivesse também um pequeno motor elétrico auxiliar para encarar as subidas, com proteção para a chuva e frio. E que fosse o menor, mais leve e simples possível.
Da ideia para o papel
Tempos depois comecei a desenhar. No início era mais uma brincadeira, um jogo de inventar que foi virando uma mania. Como não tenho formação em engenharia, tive que aprender as coisas do início e, por vezes, descobrir o óbvio pelo caminho mais longo... Por outro lado, meu modo de ver as coisas como não-especialista possibilitou encontrar soluções pouco ortodoxas para os desafios. Por exemplo: os triciclos tendem a ser instáveis e tombar nas curvas, então busquei uma forma de fazê-lo inclinar-se como uma bicicleta. Já existiam vários projetos de triciclos com essa função, mas acabei descobrindo um jeito próprio de fazê-lo. Depois de muitos desenhos, comecei a construir as maquetes e os modelos em tamanho natural.
Do papel para a terceira dimensão
Em 2010 estava decidido a montar um protótipo quando conheci o José Izarias Barros - mecânico, ferramenteiro e gerente de uma fábrica de bicicletas na zona norte de São Paulo/SP. Ele, também inventeiro, aceitou a empreitada e foi assim que, em janeiro de 2011, depois de uns 10 dias trabalhando com Izarias e o pessoal da fábrica, surgiu o triciclo com suspensão de feixe de molas e balança traseira inclinável que chamei de Joaninha.
Se hoje em dia a tecnologia de motores elétricos e baterias de alta performance está cada vez mais acessível (e a tendência é melhorar), há mais de 10 anos atrás a realidade era outra. Depois de algumas tentativas e erros, consegui motorizar a Joaninha, sendo que um motor traciona as duas rodas traseiras e um outro a dianteira. Com tração 3X3 e suspenção traseira inclinável, o triciclo Joaninha mostrou um excelente resultado em terrenos acidentados.
O protótipo na rua
Andei com a Joaninha durante uns dois anos em São Paulo para fazer pequenos percursos. Ia ao banco, aos correios, ao supermercado, à feira… Muito prática e mais confortável e segura do que uma bicicleta, transportava pequenas cargas ou pequenos caronas - meu filho que o diga!
Era divertido ver a reação das pessoas quando eu passava. Muitos queriam saber onde havia conseguido e me paravam no trânsito. Recebi até um elogio do Sr. José, engenheiro aeronáutico formado no ITA - Córdoba/AR:
- La cinética és perfecta! - Exclamou.
Por que Joaninha?
Sempre tive simpatia por esses besourinhos. Brincava que, se para os egípcios antigos o escaravelho era uma representação do cérebro (morada da alma e da imortalidade), o meu cérebro de palhaço deveria ser uma joaninha! No meu primeiro livro publicado A misteriosa Caixa do Contador de Histórias, as joaninhas acompanham o protagonista em todas as ilustrações. Acabei adotando e, até hoje, faço o desenho do besourinho nas dedicatórias que escrevo.
A escolha do nome para o triciclo teve duas motivações: primeiramente, a estrutura e a cobertura que imaginei me lembravam o inseto. Outro motivo era minha compreensão de que a cultura do automóvel que vivemos é um modelo que deve ser revisto. Minha intenção era buscar uma alternativa de transporte pessoal seguro, com menos desperdício e menos poluição, além de fazer um manifesto por um trânsito mais amistoso e pacífico.
Quero também agradecer a todas as pessoas que participaram e acompanharam esse processo.
Essa história virou livro, mas aí já é uma outra história...
Sensacional!!!!!
Um artista sabedor de todas as artes!!!!
Que lindo tudo !!!!
Você é um gênio na arte!!!!
Oi Serginho, conheço seus sonhos ha alguns anos, rsssssss, pode ter certeza, nunca duvidei de suas ideias. Voce é um maluco......beleza, rsssssss.
Você é extraordinariamente incrível!!!!❤❤